A agricultura regenerativa tem emergido como uma abordagem essencial para enfrentar os desafios climáticos e socioeconômicos do século XXI. Durante o Encontro Anual do Fórum Econômico Mundial, realizado em janeiro de 2025 em Davos, Suíça, líderes globais destacaram a importância dessa prática agrícola. Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS, enfatizou que a agricultura possui o potencial de capturar entre 10% e 20% das emissões globais de CO₂. Ele afirmou: “Se quisermos enfrentar as mudanças climáticas, precisamos investir na agricultura”. Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos, corroborou essa visão, ressaltando os avanços na medição e teste do sequestro de carbono através da agricultura regenerativa, permitindo múltiplas abordagens para mitigar as mudanças climáticas.
O que é Agricultura Regenerativa?
A agricultura regenerativa é um sistema de princípios e práticas agrícolas que visa reabilitar e aprimorar a saúde do solo, aumentando sua biodiversidade, enriquecendo a matéria orgânica e restaurando ecossistemas degradados. Diferente da agricultura convencional, que frequentemente depende de insumos químicos e técnicas que podem degradar o solo ao longo do tempo, a agricultura regenerativa foca na regeneração dos recursos naturais, promovendo a sustentabilidade a longo prazo.
Princípios Fundamentais da Agricultura Regenerativa
- Cobertura Permanente do Solo: Manter o solo sempre coberto com plantas ou resíduos vegetais protege contra erosão, conserva a umidade e alimenta a biota do solo.
- Diversidade de Culturas: A rotação e a diversificação de culturas aumentam a biodiversidade, interrompem ciclos de pragas e doenças e melhoram a estrutura do solo.
- Minimização do Distúrbio do Solo: Reduzir ou eliminar o uso de arados e outras práticas que perturbam o solo preserva sua estrutura e a vida microbiana essencial.
- Integração de Animais: A inclusão de pastoreio planejado e manejo de animais contribui para a fertilidade do solo e o controle de plantas invasoras.
- Uso de Compostagem e Bioinsumos: A aplicação de compostos orgânicos e bioinsumos melhora a fertilidade do solo sem a dependência de fertilizantes sintéticos.
Benefícios da Agricultura Regenerativa
- Sequestro de Carbono: Práticas regenerativas aumentam a capacidade do solo de capturar e armazenar carbono, ajudando a mitigar as mudanças climáticas.
- Melhoria da Qualidade do Solo: Aumenta a matéria orgânica, melhora a estrutura do solo e promove a atividade microbiana, resultando em solos mais férteis e resilientes.
- Biodiversidade Aumentada: Promove a diversidade de plantas, insetos e outros organismos, criando ecossistemas agrícolas mais equilibrados.
- Resiliência Climática: Sistemas regenerativos são mais capazes de suportar eventos climáticos extremos, como secas e inundações.
- Benefícios Econômicos: Redução de custos com insumos e potencial para acesso a mercados premium que valorizam práticas sustentáveis.
Desafios na Implementação
Embora os benefícios sejam significativos, a transição para a agricultura regenerativa apresenta desafios:
- Período de Transição: Pode levar de dois a três anos para que os agricultores observem os benefícios completos das práticas regenerativas.
- Necessidade de Conhecimento Técnico: Agricultores precisam adquirir novas habilidades e conhecimentos para implementar efetivamente essas práticas.
- Apoio Financeiro: Investimentos iniciais podem ser necessários, e o acesso a financiamento ou subsídios é crucial.
O Papel das Grandes Corporações
Empresas como a JBS estão reconhecendo a importância da agricultura regenerativa. Gilberto Tomazoni destacou que 60% dos fornecedores da JBS são pequenos agricultores. A empresa está focada em fornecer apoio financeiro e tecnológico para esses produtores adotarem práticas regenerativas. Tomazoni afirmou: “Os pequenos produtores precisam de apoio, não apenas financeiro, mas também tecnológico, para que possam adotar práticas regenerativas e contribuir para a sustentabilidade do planeta”.
Iniciativas Governamentais e Políticas Públicas
Governos ao redor do mundo estão começando a reconhecer o valor da agricultura regenerativa e implementando políticas para incentivá-la:
- Subsídios e Incentivos Fiscais: Oferecer suporte financeiro para agricultores que adotam práticas regenerativas.
- Programas de Educação e Extensão: Fornecer treinamento e recursos para ajudar os agricultores na transição.
- Pesquisa e Desenvolvimento: Investir em pesquisa para aprimorar técnicas regenerativas e desenvolver novas tecnologias.
O Papel dos Consumidores
Embora a demanda por alimentos sustentáveis esteja crescendo, Gilberto Tomazoni observou que os consumidores, em geral, não estão dispostos a pagar um prêmio por alimentos produzidos sob padrões ambientais mais elevados. Ele afirmou: “Não podemos presumir que o consumidor pagará essa conta. Precisamos aumentar a produtividade para reduzir o custo dos alimentos e torná-los mais acessíveis”.
Estudos de Caso: Sucesso da Agricultura Regenerativa
Diversas fazendas ao redor do mundo demonstraram os benefícios tangíveis da agricultura regenerativa:
- Fazenda Gabe Brown, Dakota do Norte, EUA: Implementou uma combinação de culturas de cobertura, rotação de culturas e pastoreio intensivo, resultando em solos mais saudáveis, maior biodiversidade e aumento da lucratividade.
- Fazenda Syntropy, Bahia, Brasil: Adotou sistemas agroflorestais que combinam culturas alimentares com árvores nativas, promovendo a regeneração do solo e a restauração ambiental, ao mesmo tempo em que gera renda para os produtores locais.
- Zach Wright Farm, Austrália: Utilizou práticas regenerativas para combater a erosão do solo e melhorar a retenção de água, aumentando a resiliência da fazenda às mudanças climáticas e reduzindo a necessidade de insumos externos.
Esses exemplos mostram que a agricultura regenerativa não é apenas uma teoria, mas uma prática viável e economicamente sustentável que pode transformar a maneira como produzimos alimentos.
O Futuro da Agricultura Regenerativa
A adoção da agricultura regenerativa está crescendo globalmente, impulsionada por fatores como:
1. Avanços Tecnológicos
Novas tecnologias, como sensores de solo, drones para monitoramento de culturas e inteligência artificial aplicada à agricultura, estão permitindo que os agricultores implementem práticas regenerativas com mais precisão e eficiência. A medição e análise do sequestro de carbono, conforme destacado por Al Gore, é um dos principais avanços nesse sentido.
2. Pressão do Mercado e ESG
Empresas e investidores estão cada vez mais focados em critérios ambientais, sociais e de governança (ESG). Agricultores que adotam práticas regenerativas podem se beneficiar de programas de incentivo, certificações sustentáveis e acesso a mercados que valorizam produtos de origem responsável.
3. Educação e Capacitação
A capacitação dos agricultores é essencial para que mais produtores possam adotar essas práticas. Programas de treinamento e redes de colaboração entre produtores estão ajudando a disseminar conhecimentos e a acelerar a adoção da agricultura regenerativa.
4. Legislação e Políticas Públicas
Governos de diversos países começam a criar incentivos para a adoção da agricultura regenerativa. Programas de crédito agrícola sustentável, incentivos fiscais para produtores que sequestram carbono no solo e subsídios para práticas agroecológicas podem fortalecer essa transição.
Conclusão
A agricultura regenerativa não é apenas uma tendência passageira, mas uma necessidade global para garantir a produção sustentável de alimentos, reduzir os impactos ambientais da agropecuária e combater as mudanças climáticas. Grandes corporações como a JBS e líderes globais como Al Gore estão reconhecendo seu potencial e investindo em soluções que tornam essa abordagem mais acessível para os agricultores.
O desafio agora é ampliar a adoção dessas práticas, garantindo que os benefícios sejam percebidos em escala global. Para isso, é fundamental a colaboração entre governos, empresas, cientistas, agricultores e consumidores. A conscientização sobre a importância da agricultura regenerativa precisa crescer, e iniciativas que unem tecnologia, conhecimento e financiamento podem ser a chave para transformar o setor agropecuário em uma força positiva para o planeta.
Seja no grande agronegócio ou na pequena propriedade familiar, a regeneração do solo e a preservação dos recursos naturais são fundamentais para a segurança alimentar e o equilíbrio ambiental nas próximas décadas. É hora de olhar para a terra não apenas como um meio de produção, mas como um ecossistema vivo que precisa ser regenerado e preservado para as futuras gerações.
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